terça-feira, 16 de junho de 2009

Comentário de um professor ao artigo publicado no Correio Popular

Meu Caro,
 
Escrevo-lhe para dizer que li o seu artigo no Correio Popular...e gostei.


Escrevo-lhe para lhe dizer que é necessário que os pais assumam um outro papel na escola. Não só no que respeita ao seu dever enquanto educadores dos seus filhos, mas como elementos indispensáveis para a alteração da escola pública nomeadamente através do papel que já lhe é atribuído na legislação, pela sua integração nos órgãos dirigentes.


Escrevo-lhe porque aprecio a sua atitude...e talvez possa ajudar a uma melhor compreensão do problema.


De facto,
Os professores encaram a escola como coisa sua e cada professor encara a sua aula como "o seu reino". Todas as tentativas de alteração a este estado de coisas tem sido mal vindas pelo corpo docente e dentro da medida do possível, bloqueadas.


É evidente para mim, professor com mais de 30 anos de experiência, que a escola pública necessita de mudar e não será por dentro que será possível essa mudança.


No que diz respeito à indisciplina, chamo a sua atenção para o seguinte:

1 - Como sabe, enquanto pai, a pior coisa que existe para minar a autoridade é haver comportamentos divergentes dos pais em relação a uma qualquer atitude incorrecta do filho. Se um finge que não vê ou relativisa, o outro nunca será capaz de convencer o educando da gravidade da sua atitude, muito menos contribuir eficazmente para a alteração do seu comportamento.


2 - Na escola passa-se o mesmo. Não temos vários pais, mas sim vários professores, cada um com o seu "reino" onde a diferença entre os níveis de permissividade, face a comportamentos desajustados, é muito maior do que o pior que possa imaginar. Muitos professores adoptam (como muitos pais) a atitude simplista de fingirem que não vêm, por várias razões, que depois explicarei.


3 - Com esta realidade, a que se junta a realidade que descreveu no seu artigo, relativamente à desresponsabilização dos pais face à educação dos filhos, que leva alguns pais a dizerem abertamente "não tenho mão no meu filho" (o mesmo é dizer, ele faz o que quer e eu fico a ver), é impossível estabelecer parâmetros de comportamento admissíveis e mais importante, muito difícil estabelecer uma relação baseada na autoridade com os alunos. Note que a autoridade a que me refiro não é o autoritarismo do "eu posso quero e mando" mas aquele que resulta do reconhecimento por parte do aluno da autoridade do professor, que em paralelo com o reconhecimento da autoridade dos pais, resulta não só da competência técnica, mas do reconhecimento da sua valia como pessoa, homem ou mulher, que escolheram como vocação ensinar e fazer crescer.


4 - Se o problema a que refere no artigo (irresponsabilidade de alguns pais face à educação dos seus filhos) é um problema nacional e cultural profundo e de difícil solução (para o combater sugeria um maior envolvimento das comunidades locais e associativas na educação dos jovens, o que implicaria uma funcionalidade mais alargada das muitas associações a nível concelhio), já o outro (a inexistência de parâmetros de comportamento admissíveis comuns aos vários professores) parece-me de bem mais fácil de resolução, sendo para isso apenas necessário uma alteração do modo como funciona a escola (cada aula um reino) e isso já por si será muito difícil.

Acredite que o maior óbice (não revelado) dos professores a uma avaliação, nos moldes propostos pela Ministra, é o quebrar desse tabu, de que cada aula é um reino (e ninguém tem nada a ver com a maneira como eu dirijo o meu). A observação de aulas e a sua avaliação por colegas implica necessariamente a destruição desse tabu.


5 - Relativamente aos motivos que levam á inexistência dos tais parâmetros, prendem-se não só com o conceito de que cada aula é um reino (e portanto com regras, ou sem regras, próprias) mas também com a atitude do ministério, que tem ao longo dos anos passado para os professores e para a escola toda a responsabilização dos (maus) comportamentos dos alunos. Sendo assim temos vindo a caminhar para uma escola virtual onde, se atendermos ao número de faltas e medidas disciplinares, não existe qualquer problema sério de indisciplina, o que aliás é a posição do Ministério da Educação.



De facto, a maior parte dos professores permitem nas suas aulas os comportamentos mais abusivos sem que aos mesmos corresponda qualquer sanção. É que uma falta disciplinar põem em causa não só o aluno como o professor, pondo em perigo a virtualidade da sua actuação e sabe-se lá se a sua própria avaliação. Quantas vezes tenho ouvido professores queixarem-se de atitudes aberrantes por parte de alunos, professores que quando questionados acerca da atitude que tomaram respondem: nenhuma...nem uma falta disciplinar, nem uma comunicação aos encarregados de educação. Ou, quando no caso de um aluno cujo comportamento já chegou a um ponto que não só já prejudica, mas inviabiliza mesmo as aulas de muitos professores, e o Conselho de Turma quer tomar medidas mais drásticas, nomeadamente a suspensão, se vai verificar que afinal não se pode tomar qualquer medida pois o aluno afinal é virtualmente bem comportado. Isto é, nenhum dos professores que se queixa de não conseguir dar aulas, lhe marcou qualquer falta disciplinar.


6 - O que os pais podem e devem fazer é não aceitar que se diga que a Turma A ou B é prejudicada pelo comportamento de alguns alunos, sem que esses alunos, esses comportamentos essas ocorrências e as medidas que foram tomadas para resolver a situação estejam devidamente registadas. Que não seja permitido dizer que o aluno A ou B é problemático ou mal comportado sem que haja um registo público detalhado de todas as ocorrências que levaram a essa conclusão, registo a que obviamente correspondem medidas disciplinares ou outras tendentes a corrigir o seu comportamento.


7 - Finalmente não chega disciplinar, é necessário premiar. É necessário que o mérito dos alunos, não só no que diz respeito ao aproveitamento, mas no que diz respeito ao seu comportamento seja premiado e não só através das "notas", a que os maus alunos não ligam nenhuma. A escola da Atouguia deu um pequeno passo nesse sentido através do prémio Guilherme de Corni, que é um prémio monetário relacionado com aproveitamento, mas estou certo que uma associação de Pais activa e criativa, com o apoio do mundo empresarial, poderá criar múltiplos prémios e incentivos não só ao sucesso escolar mas também ao sucesso na estruturação positiva do aluno, enquanto pessoa.
 
 
Espero ter sido de alguma utilidade nesta pequena clarificação acerca da indisciplina, vinda de
um professor, que tendo uma boa relação com os seus alunos e muito poucos problemas disciplinares ou de autoridade, é mesmo assim um dos professores que marca mais faltas disciplinares. Não são muitas, atendendo ao estado geral de educação, uma ou duas por semana. Os alunos permanecem na sala e é preenchida uma ficha com a ocorrência para o director de turma. Após a marcação da falta os alunos visados passam, regra geral, a moderar o seu comportamento.


Esta situação é incompreensível, para os alunos que não percebem bem porque é que só na minha aula agredir um colega com uma borracha atirada pelo ar, "apalpar" uma colega na brincadeira, ou dar uns encontrões a um amigo, perturbando a aula, é motivo para falta disciplinar. Devo dizer que para mim também é incompreensível, pois não entendo bem como é possível dar aulas fingindo que não se vê o que se passa à volta. Não me parece muito educativo.
 
Cumprimentos

(a pedido não se revela o nome do autor)
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terça-feira, 9 de junho de 2009

DVD - Projecto G8 - 5º B

DVD de apresentação do projecto G8 sobre o tema - VIOLÊNCIA NA ESCOLA
Avisam-se todos os interessados que já se encontra disponível o DVD de apresentação do projecto G8, que contou com a presença de sua Exa. o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Peniche.
O custo é de 5€ e a receita reverte a favor da nossa associação.
Para encomendas, é favor contactar a nossa associação, ou o seu presidente em
leoneldossantos@mail.telepac.pt