quarta-feira, 27 de maio de 2009

Assoc. Ambientalista Quercus "PASTILHAS ELÁSTICAS"

EMBRULHE AS PASTILHAS ELÁSTICAS ANTES DE DEITAR FORA!

Atraídos pelo cheiro adocicado e pelo sabor de fruta, os passarinhos tentam comer restos de pastilhas elásticas deixadas, irresponsavelmente, em qualquer lugar.
Ao sentirem a pastilha colada no seu bico, tentam, desesperados, retirá-la com as patas... E aí, acontece o pior: acabam sufocados.

Por favor, embrulhe a pastilha num pedaço de papel e deite-o no lixo.
Divulgue esta mensagem!

Seja você também consciente e ajude a Natureza! Há tanta coisa simples que podemos fazer para evitar tanta coisa assustadora! Esta é uma delas...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Entrevisto do Presidente da Associação ao Jornal Correio Popular


Antes de responder às questões que me foram colocadas pelo Correio Popular, gostaria de dizer duas coisas:

Em primeiro lugar pedir desculpa ao meu amigo José Manuel Lourenço, director do Correio Popular, pelo facto de há quatro meses estar à espera deste meu artigo e só agora estar pronto para publicação. O trabalho tem sido muito e embora tenha começado, logo que me foi dirigido o convite, a elaborar um rascunho, procurei ao longo deste tempo aperfeiçoá-lo e torná-lo digno de ser lido pelos leitores do Correio Popular. Reconheço que o que a seguir escrevo tem muitas limitações mas creio que o que é importante é transmitir ideias, que serão sem dúvida passíveis de ser rebatidas.

Em segundo lugar quero deixar claro que as opiniões que expresso, são as minhas próprias opiniões, não são seguramente, embora haja uma ampla coincidência de pontos de vista, o pensamento dos restantes membros da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos da Escola Básica do 2º e 3º ciclo D. Luis de Ataíde de Peniche.

Questões

01- Quais são os vossos planos para este ano?
Os nossos planos para este ano forma aprovados na reunião de direcção que teve lugar em 12 de Novembro de 2008, em traços gerais o que propomos fazer é o seguinte:

1. CONHECER A ESCOLA – Os seus problemas e as suas necessidades.
Como?
Através de REUNIÕES com:
- Órgãos directivos
- Directores de turma
- Representantes dos funcionários
Através de INQUÉRITOS:
- Aos pais
- Aos alunos
- E a toda a comunidade educativa

2. PARTICIPAR ACTIVAMENTE NA RESOLUÇÃO DOS PROBLEMAS DA ESCOLA
Como?
Através da nossa disponibilidade para colaborar com quem nos contacte, órgãos directivos, directores de turma, professores, pais, alunos, funcionários, para a procura de caminhos que permitam que a escola seja um espaço de aprendizagem, de harmonia e de solidariedade.

3. ENVOLVER A COMUNIDADE E EM ESPECIAL OS PAIS E ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO:
Como?
Através da comunicação rápida e eficaz:
- Site na internet
- Blogue
- Artigos nos jornais locais
Através da participação:
- Acções de sensibilização no sentido de chamar os pais à escola e alertá-los para a importância da sua participação na vida escolar dos seus filhos
- Elaboração e envolvimento em projectos de animação do espaço escolar e de angariação de fundos, para compra de material para a escola.

4. A NIVEL ESTATUTÁRIO
- Criar um grupo de trabalho para analisar os actuais estatutos da associação e propor as necessárias adaptações à nova realidade decorrente não só da situação de inactividade da associação nos últimos anos, mas também da integração da escola num agrupamento vertical.

5. A NIVEL DO ASSOCIATIVISMO
- Colaborar activamente com a outra associação de pais existente no agrupamento, a da Escola nº 1, para que a informação flua atempadamente entre estas duas estruturas.
- Colaborar com a CONFAP

02- Um dos principais problemas que enfrentam é a baixa adesão dos pais. O que esperam fazer para tentar reverter essa situação?


Em nossa opinião, a baixa participação dos pais não é um problema exclusivo das associações de pais, é um problema cultural e no caso português agravado por um regime que durante 48 anos tomou as decisões em nome de todos. Por outro lado, hoje em dia assiste-se cada vez mais a um afastamento preocupante entre os representantes e representados e isso tem a ver com a defesa de interesses individuais em detrimento de interesses colectivos. Felizmente o paradigma da democracia intermitente, isto é a votação para os orgãos que nos representam de quatro em quatro anos, tem uma tendência acelerada para se alterar, alteração essa que está a ser feita através da imprensa, das sondagens, dos blogues, dos grupos de discussão e de opinião da internet, e dentro de muito pouco tempo os orgãos que detem o poder estarão muito mais atentos á sua actuação diária e não só quando pretendem agradar aos eleitores em períodos pré eleitorais. Isto é um assunto que nos levaria muito longe e a paciência dos leitores tem limites…

Há todavia uma realidade que não posso, nem devo, ignorar e que é minha obrigação denunciar.
Muitos pais encaram a escola como o armazém de crianças. Aquele sitio onde se “deixam os putos para não chatearem!”. O local onde deixam os filhos para irem trabalhar (e às vezes divertir-se). Muitos desses pais encaram a escola como um espaço que tem obrigação de os substituir na tarefa da educação. “Os professores que os eduquem, são para isso que são pagas!” já ouvi dizer. Ora a tarefa da educação, entendida como um conjunto de regras e comportamentos adequados à vida em sociedade é, em primeiro lugar, dever dos pais. É em casa que se começam por definir regras, não dizer palavrões, não ser rude com colegas, professores, empregados e com os demais seres humanos, respeitar os outros, comportar-se civilizadamente nos espaços que se tem que partilhar com as outras pessoas, acima de tudo, fazer interiorizar aquela máxima “a tua liberdade termina onde começa a liberdade dos outros”. É em casa que se aprende isso não é na escola!.
A educação começa em casa, a escola ensina as crianças mas não é sua função substituir-se à família.

Neste aspecto sou peremptório porque penso que os nossos impostos, que com muito sacrifício pagamos, (e porque somos um pais pobre, não temos petróleo nem outros recursos naturais que possamos explorar), devem ser geridos de forma exemplar. Se um aluno é mal comportado, se o encarregado de educação é chamado à escola e, ou não comparece ou comparecendo não faz rigorosamente nada para que o comportamento do seu educando se altere, então com a sua atitude está a desbaratar recursos que são de todos nós. E porquê? Porque o aluno, está a “roubar” o tempo que deveria ser utilizado para o ensino dos seus colegas. Porque pelo facto de se comportar mal, e obrigar o professor e os colegas a interromper a aula e a desviar a atenção, se está a apropriar de um recurso que é o tempo da aula para seu próprio beneficio.
O que fazer então ao encarregado de educação? Se não consegue que o seu educando cumpra regras (que por acaso até estão expressas no regulamento interno da escola), e se nada parece resultar, em ultimo caso penalizá-lo com aumento dos seus impostos para que assim possa compensar o prejuízo que causa à escola. É pena que nesta sociedade, todos se achem com direito a tudo, mas quando se fala de obrigações, é frequente assobiar-se para o lado.

Mais uma vez a cultura do facilitismo prevalece, porquê portar-me bem? vou ter um computador portátil mesmo assim, porquê estudar? no final do ano vou passar! (eles sabem que o processo burocrático que os professores tem que fazer é tanto para reterem os alunos, que alguns preferem fechar os olhos e atirar o problema para o ano/colega seguinte)

Em relação concretamente à nossa associação, pensamos que temos que demonstrar aos pais e encarregados de educação porque é que a associação de pais é importante, temos que agir de forma a que os pais sintam efectivamente que estamos a trabalhar em prol dos seus filhos e isso consegue-se fazendo propostas, intervindo activamente em todos os domínios.
O decreto lei 75/2008 de 22 de Abril, que estabeleceu o novo regime de autonomia das escolas, pôs nas mãos dos representantes dos pais uma série de instrumentos de forma a permitirem uma intervenção mais activa na escola. É nossa opinião que não devemos frustrar as expectativas dos governantes que puseram à nossa disposição estes instrumentos.

03- Como avaliam a relação pais/educadores com a escola, em especial com professores e integrantes dos órgãos de gestão da escola?

Como em todos os organismos quer públicos quer privados, quando se reconhece aos utentes/clientes o direito legitimo de intervirem, de forma a que os serviços possam ter uma melhor qualidade e possam corresponder aquilo que deles se espera, há sempre uma certa desconfiança. Aconteceu há anos atrás com a introdução da certificação de qualidade nas empresas. Se sempre se tinham produzido e vendido os produtos de determinada maneira, “porque carga d’água” é que agora se iria introduzir um mecanismo de controle de qualidade? Poucos anos depois a filosofia da certificação estava consolidada e já ninguém questionava o sistema. De uma maneira geral o ser humano é avesso à mudança, não resisto a transcrever uma historia que corre na internet:

Um grupo de psicólogos dispôs-se a fazer uma experiência com macacos.
Colocaram cinco macacos dentro de uma jaula. No meio da jaula, uma mesa. Acima da mesa, pendendo do teto, um cacho de bananas. Os macacos gostam de bananas. Viram a mesa. Perceberam que subindo alcançariam as bananas. Um dos macacos subiu para cima da mesa para apanhar uma banana. Mas os psicólogos estavam preparados para essa eventualidade: com uma mangueira deram-lhe um banho de água fria. O macaco que estava sobre a mesa, ensopado, desistiu provisoriamente do seu projecto.
Passados alguns minutos, voltou o desejo de comer bananas. Outro macaco resolveu comer bananas. Mas, ao subir outro banho de água fria. Depois de o banho se repetir quatro vezes, os macacos concluíram que havia uma relação causal entre subir para cima da mesa e o banho de água fria. Como o medo da água fria era maior que o desejo de comer bananas, resolveram que o macaco que tentasse subir levaria uma sova.
Quando um macaco subia para cima da mesa, antes do banho de água fria, os outros aplicavam-lhe a sova merecida. Então os psicólogos retiraram da jaula um macaco e colocaram no seu lugar um outro macaco que nada sabia dos banhos de água fria. Ele comportou-se como qualquer macaco. Foi subir para cima da mesa para comer as bananas. Mas, antes que o fizesse, os outros quatro aplicaram-lhe a sova prescrita. Sem nada entender e passada a dor da surra, voltou a querer comer a banana e subiu outra vez. Nova sova. Depois da quarta sova, ele concluiu: nesta jaula, quando um macaco sobe para cima da mesa apanha. Adoptou então a sabedoria cristalizada pelos políticos humanos que diz: se não podes derrotá-los, junta-te a eles.
Os psicólogos retiraram então um outro macaco e substituíram-no por outro. A mesma coisa aconteceu. Os três macacos originais mais o último macaco, que nada sabia da origem e função da surra, aplicaram-lhe a sova de praxe. Este último macaco também aprendeu que, naquela jaula, quem subia para cima da mesa apanhava.
E assim continuaram os psicólogos a substituir os macacos originais por macacos novos, até que na jaula só ficaram macacos que nada sabiam sobre o banho de água fria. Mas, apesar disso, eles continuavam a sovar os macacos que tentavam apanhar as bananas.
Isto prova a importância do hábito, da rotina.
Se perguntássemos aos macacos a razão das surras, eles responderiam: é assim porque é assim. Nesta jaula, o macaco que sobe para cima da mesa apanha... Tinham-se esquecido completamente das bananas e nada sabiam sobre os banhos. Só pensavam na mesa proibida.
Vamos "fazer de conta". Imaginemos que as escolas fossem as jaulas e que nós é que estávamos dentro delas... Por favor, não se ofendam, é só um “faz-de-conta” para ajudar o raciocínio.
O nosso desejo original é comer bananas. Mas já nos esquecemos delas. Há, nas escolas, uma infinidade de coisas e procedimentos cristalizados pela rotina. À semelhança dos macacos, aprendemos que é assim que são as escolas. E nem fazemos perguntas sobre o sentido daquelas coisas e dos procedimentos mais adequados para a educação das crianças. Vou dar alguns exemplos.

Primeiro, a arquitectura das escolas. Todas as escolas têm corredores e salas de aula. As salas servem para separar as crianças em grupos, segregando-as umas das outras. Porque é que é assim? Tem de ser assim? Haverá uma outra forma de organizar o espaço, que permita a interacção e cooperação entre crianças de idades diferentes, tal como acontece na vida? A escola não deveria imitar a vida?

Programas. Um programa é uma organização de saberes numa determinada sequência. Quem determinou que esses são os saberes e que eles devem ser aprendidos na ordem prescrita? Que uso fazem as crianças desses saberes na sua vida de cada dia? As crianças escolheriam esses saberes? Os programas servem igualmente para crianças que vivem nas praias do Algarve, nas zonas suburbanas da Amadora, nas aldeias da Serra da Estrela, ou de Trás-os-Montes?
Os programas são dados em unidades de tempo chamadas "aulas". As aulas têm horários definidos. No final de cada uma, toca-se uma campainha. A criança tem de parar de pensar o que estava a pensar e passar a pensar o que o programa diz que deve ser pensado naquela altura. O pensamento obedece às ordens das campainhas? Porque é que é necessário que todas as crianças pensem as mesmas coisas, na mesma hora, no mesmo ritmo? As crianças são todas iguais? O objectivo da escola é fazer com que as crianças sejam todas iguais?

A questão é fazer as perguntas fundamentais, e, para nossa própria sanidade mental, não nos conformarmos com o “status quo”, por que é que assim? Para que serve isso? Poderia ser de outra forma? Temo que, como os macacos, concentrados no cuidado com a mesa, acabemos por nos esquecer das bananas...

"Triste Época! Mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito" (Albert Einstein)

Esta história é bem elucidativa do que se passa na nossa sociedade. Não é só nas escolas que é difícil mudar, hábitos, maneiras de ser e de proceder, estamos inundados de instituições que se gerem por procedimentos cristalizados no tempo. Ainda á bem pouco tempo os livros selados da contabilidade tinham que ser escriturados à mão, e num tempo ainda não muito distante com letra francesa, desenhada… Imagine-se!
Há hábitos de décadas que não é fácil alterar. Nos tribunais, nas repartições de finanças e nos serviços públicos em geral. Esta situação contrasta vivamente com a actividade privada onde a alteração de métodos para melhorar a eficiência á incentivada.
Em Inglaterra, por exemplo, quando o governo de Tony Blair ganhou as eleições à Sra.Margeret Thatcher, instituiu, através do Ministério de Comercio e Industria, um sistema de melhoramento continuo (continuous improvement) que tinha como objectivo incentivar as empresas a descobrirem as melhores práticas para aumentar a eficiência e combater os desperdícios.
Uma grande parte das empresa aderiu à ideia e abriu-se ao exterior e, no seu próprio interesse e no interesse dos seus clientes, aceitaram sugestões e ideias para melhorar procedimentos. A filosofia subjacente era que as poupanças obtidas, fossem repartidas pelos promotores das ideias. O sistema, teve enorme sucesso.
Neste campo não estamos tão perto de Inglaterra como era desejável, mas temos que reconhecer que existe a consciência de que já não fazem sentido determinado numero de procedimentos. A sociedade mudou radicalmente de há vinte anos a esta parte (e mudará muito mais rapidamente daqui para a frente), e é fundamental que se alterem práticas que hoje já não fazem nenhum sentido.

Há ainda um longo caminho a percorrer no relacionamento entre a associação de pais da nossa escola e os professores e órgãos dirigentes. É fundamental que todos nós centremos o nosso interesse no que é essencial na escola que é A CRIANÇA. É obrigação de nós todos proporcionar-lhes as ferramentas com que irão enfrentar a vida, quer essas ferramentas sejam conhecimentos, quer sejam experiências, quer sejam formas de relacionamento e de socialização.
Por outro lado a nossa associação esteve inactiva durante uma série de anos e isto é um factor muito negativo, que irá levar algum tempo até que se reconheça a importância da nossa participação. Como referi, a associação de pais tem que fazer coisas, tem que estar activa, tem que promover projectos, tem que, ao fim e ao cabo “fazer falta”.

04- Estão satisfeitos com as vossas escolas? Porquê?

Para ser sincero, não. Aliás penso que se a resposta fosse afirmativa, seria um mau sintoma porque daria a impressão de que tudo estava já feito e que nada haveria a acrescentar e melhorar.
Estamos numa encruzilhada (a palavra mais forte seria trapalhada), onde as instituições que eram intocáveis deixaram de ter credibilidade, governos, tribunais, bancos, empresas, famílias, escolas, etc.etc..
A actual crise que começou por ser financeira e descambou (como seria de esperar) numa crise económica, acabou por pôr a nu uma série de questões que ninguém se atrevia a colocar mas que em boa verdade todos nós tínhamos formuladas. Como é possível enriquecer-se rapidamente sem nada produzir? Com é possível fazer dinheiro através da pura especulação? Compro hoje por 5 amanhã vendo por 10. Será que todos ganhavam? Quando rebentou o caso da Dna Branca, olhávamos sorrindo de soslaio, acusando de ingénuos os que tinham caído no esquema. Hoje já ninguém se ri porque não é a “banqueira do povo” que está na ribalta são os Madof, e outros que tais que se aproveitaram na ingenuidade de muitos para enriquecerem em proveito próprio.
São estes exemplos que damos aos nossos filhos. Qual o papel das famílias e qual o papel das escolas na tarefa de recentrar a atenção das crianças nos valores fundamentais da nossa civilização?
Tarefa ciclópica, pois claro! Contudo imprescindível porque decisiva na educação formação dos que amanhã irão ter em suas mãos o nosso destino. E isto não é coisa pouca, são eles que irão decidir se nos hão-de pagar ou não as reformas a que temos direito. Meus amigos se não for inculcado o valor solidariedade nas nossas escolas e nas nossas casas, temo que algum governante futuro decrete que os velhos são um fardo e não merecem ser protegidos.
É crua a afirmação mas são estes valores, entre muitos outros, que devem ser ensinados. O trabalho, a superação, o respeito pelos demais, a tolerância para discutir novas ideias.
Se estivéssemos contentes com a escola, estas preocupações não fariam sentido.


quarta-feira, 20 de maio de 2009

COMUNIDADE EDUCATIVA E PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA

Texto da conferência no Âmbito do Congresso para a Cidadania realizado no auditório do Teatro Failense na Cidade da Horta nos Açores em 29 de Janeiro de 2005
Conferencista: Manuel Barbosa
Moderador: Jorge Lima


1. A COMUNIDADE EDUCATIVA: UMA ENTIDADE DE GEOMETRIA VARIÁVEL

1.1 Sobre a ideia de Comunidade: da tentativa de recuperação aos esforços de significação

i. A progressiva dissolução de laços comunitários e a consequente atomização dos grupos humanos (dando origem a sociedades cada vez mais individualizadas) tem suscitado um interesse renovado pela ideia de comunidade. Hoje fala-se em recuperar o espírito de Comunidade (“entendimento partilhado por todos os seus membros”, na definição de Ferdinand Tönnies) ou, sem nostalgias, em investir a comunidade com significados mais adaptados ao nosso tempo e às novas exigências.

ii. Costuma definir-se “Comunidade” por oposição a “sociedade”. Uma e outra representam associações, mas de diferente natureza. Enquanto a “sociedade” genericamente considerada, remete para uma associação de indivíduos em torno de projectos e interesses comuns, já a “Comunidade” fala-nos de uma associação ou de um agrupamento humano, constituído em redor dos mesmos valores, das mesmas crenças, das mesmas razões de viver e do mesmo estilo de vida (por exemplo, a democracia).

iii. A partir desta noção de Comunidade, e tendo como pano de fundo a democracia como estilo de vida, investe-se a Comunidade com este sentido: hoje “Comunidade” deve ser entendida como “movimento activo de se reconhecer em associações com o fim de actuar juntos na esfera pública”. Comunidade é laço social que se tece para defender bens e valores no espaço público das democracias pluralistas.

1.2. A Comunidade Educativa: Os seus Elementos, as suas Fronteiras, o seu território

i. A Comunidade educativa é uma figura legal de geometria variável. É de âmbito local mas não se lhe conhecem, à priori, com rigor os elementos que a compõem e bem assim as fronteiras e respectivos território. Não confundir “Comunidade Educativa” com “Comunidade Escolar”. Não se sobrepõem, embora uma faça parte da outra.

ii. O que é então a “Comunidade Educativa”? Não se resumindo à “Comunidade Escolar” mas não podendo passar a seu lado (já que a “Comunidade Escolar” é uma das suas peças chave), a “Comunidade Educativa” é um agrupamento de pessoas e instituições (professores, alunos, pais e encarregados de educação, funcionários não docentes das escolas, serviços da administração central e regional com intervenção na área da educação, autarquias locais, associações culturais e recreativas e outras organizações cívicas – para além das entidades ligadas a actividades de carácter científico, ambiental e económico de uma determinada área geográfica) que se associam para realizar um projecto de educação, com os seus valores e com as suas finalidades. Idealmente dever ser assim mas, e na prática? Quando falamos de “Comunidade Educativa” não estaremos muitas vezes a nomear uma entidade virtual que apenas existe no universo dos ideais? No campo dos possíveis?

iii. Diga-se o que se disser, é um facto que precisamos de “fazer” comunidade para educar as nossas crianças e os nossos jovens (e já agora os adultos). Quanto mais ampla e mais articulada em torno das mesmas metas, tanto melhor será a “Comunidade Educativa”

1.3 Apostas e projectos da Comunidade Educativa: o que se afigura pertinente e necessário.i. A Comunidade educativa, para ser “Comunidade” e para ser Educativa”, precisa de estar agregada em torno de várias metas. Ou seja, precisa de estar reunida para desenvolver propósitos educativos. Mas que propósitos? Perguntar-se-á com curiosidade nesta época em que se somam os problemas da sociedade! Educar para a sociedade da informação, da comunicação e do conhecimento? Para as novas exigências do sistema produtivo? Para o consumo responsável? Para a autonomia e para a participação nas estruturas da sociedade democrática? Para o respeito da alteridade e da diferença? Para o respeito de si mesmo? E se tudo isto significasse que se deve educar para a cidadania e a responsabilidade social? Será este o projecto mais urgente da Comunidade Educativa? Tudo leva a pensar que sim. Quem o sublinha são os próprios responsáveis da Unesco quando consideram que devem prosseguir os esforços de reconstrução da educação “como projecto cidadão de formação cívica” e que a escola – verdadeira placa giratória da Comunidade Educativa – deve ser uma “propedêutica para a vida cívica, para a vida cultural, para a vida social e para a vida familiar” .

2. EDUCAR A CIDADANIA ACTIVA: UMA TAREFA DA COMUNIDADE EDUCATIVA

2.1Educação, democracia e cidadania

i. A Educação integra um projecto que se reformula em função das necessidades e das circunstâncias. Hoje, porque faz falta revitalizar a democracia como forma de governo e estilo de vida (já que tem sido debilitada pelo alheamento dos cidadãos da gestão e administração dos assuntos públicos), o projecto da educação (assumido pela comunidade educativa) passa por uma focalização na “aprendizagem da cidadania activa e criativa” ( a distinguir da cidadania do comodismo e do conformismo, do queixume e da culpabilização dos supostos responsáveis pela gestão integral dos assuntos da nação.

ii. A hora é de capacitar para o exercício da cidadania activa, crítica e responsável, pois não há democracia sem ela. A democracia não pode funcionar sem cidadãos, isto é, um tipo de humanidade que não nasce por geração espontânea. Isto é tanto mais importante quanto se verifica, com alguma preocupação, a defesa exacerbada dos direitos individuais e o desinteresse pela vida colectiva, ignorando que há deveres e responsabilidades a cumprir na esfera da vida pública. Que o “interesse público” não se reduza à curiosidade pelas vidas privadas das figuras públicas e que a arte da vida pública não seja a mera exibição pública de assuntos privados. Vivemos entusiasmados e por vezes alheados da autêntica vida pública (que é debate, discussão e negociação de propostas e projectos de melhoramento da sociedade). A democracia não é apenas defesa dos direitos e prerrogativas individuais. É também auto-organização colectiva, envolvimento de todos na gestão e na administração do que é comum. Só este poder colectivo pode salvaguardar os tão preciosos direitos individuais.

iii. A Cidadania activa e comprometida não é uma exclusividade da classe política. É um dever de todos (por mais que isso desagrade a uma certa classe política). É para ser levada a sério pela Comunidade Educativa, por todos os seus membros (pais, professores, alunos, pessoal não docente das escolas, representantes das actividades de carácter cultural, artístico, científico, ambiental e económico da respectiva área com relevo para o projecto educativo da escola), tanto mais quanto é necessário aprendê-la como se fosso um verdadeiro ofício.

iv. O ofício da Cidadania activa não se improvisa. Requer um processo de aprendizagem baseado na aquisição de certas competências.

2.2 Aprendizagem da Cidadania: Uma questão de competências

i. A Cidadania activa, para ser uma realidade efectiva ( e não mero voto piedoso, ou declaração de pura retórica) precisa de se escorar em certas competências: antes de mais em “competências cognitivas” (ligadas a conhecimentos de ordem jurídica e política, como as regras de funcionamento da sociedade democrática, os direitos do cidadão, as suas obrigações, ou ainda articuladas com as capacidades de argumentação e reflexão autónomas). Depois em “competências éticas” (uma vez que a cidadania, mais do que a posse ou a aquisição de um estatuto jurídico legal, é sobretudo uma prática de compromisso moral, devendo implicar por esse facto a capacidade de deliberar em função de certos valores e princípios éticos, como é o caso da liberdade, da tolerância, da igualdade e da solidariedade). Por fim, as “competências sociais”, já que é importante estar habilitado para participar activamente nas esferas da vida pública, desenhando e implementando projectos colectivos, resolvendo conflitos à luz do direito democrático, dialogando e cooperando, tomando decisões e assumindo responsabilidades.

ii. Por aqui se vê que a aprendizagem da cidadania é exigente de mais para caber nas atribuições de um só agente. Também aqui e aplica o ditado anglolsaxónico: “É preciso toda uma aldeia para educar uma criança”.

iii. Mude-se a “aldeia” por “comunidade” e começaremos a perceber o quanto é importante contar com ela na educação da cidadania activa.

2.3 Papel da Comunidade Educativa

i.O que se pede à Comunidade Educativa é que reuna sinergias e vontades para levar a cabo esse desiderato (“educar a cidadania activa”) sem contradições e “descontinuidades normativas”, quer dizer, em sintonia e parceria.

ii. Pede-se sobretudo que transforme a escola em “esfera pública democrática” onde se realize uma experiência de cidadania activa, não obstante as limitações que esse espaço comporta. Sim, porque hoje em dia o que importa é “banhar” as crianças e jovens num ambiente de cidadania activa, e não propriamente pregar uma moral cívica e inculcar um código de conduta.

iii. Se há razões acrescidas para a revitalização das Comunidades Educativas, elas encontram-se na implicação de todos os seus agentes na construção desse tipo de escola – a começar na sala de aula e a acabar no recreio, passando por todos os orgãos de gestão democrática dessa instituição (Assembleia, Conselho Executivo, Conselho Pedagógico e Conselho Administrativo)

iv. O sentido da participação democrática na escola fica assim redefinido e delimitado. A partir de agora “tomar parte” na vida da escola quer dizer, “participar”, é envolver-se e implicar-se num projecto de cidadania, em que os principais destinatários são as crianças e os jovens das nossas comunidades. Esta é uma meta que apela à nossa responsabilidade cívica enquanto membros da comunidade educativa de uma sociedade democrática. Não esqueçamos que a “participação” (no sistema educativo, nas estruturas da sociedade...) sendo um direito de todos (consagrado na Constituição), é também um dever de cada um. Ninguém deve renunciar à participação, pois a condição de cidadão a isso obriga.

3. A PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA: OBSTÁCULOS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS

3.1 Dificuldades e obstáculos

i. A participação democrática nas escolas é necessária para o desiderato da cidadania, mas nem sempre é fácil exercê-la. Há dificuldades e obstáculos que todos conhecem e que é preciso lembrar, quanto mais não seja para os contornar e vencer. Vejamos uma lista que não pretende ser exaustiva:
a. Falta de informação (há membros da comunidade educativa que desconhecem os seus direitos de participação nas estruturas da Escola (Assembleia, Conselho Pedagógico, Conselho Disciplinar) e que ignoram as funções dos vários orgãos;
b. Aversão à participação (é mais cómodo serem os outros a decidir, e isto tanto do lado dos professores como do lado dos alunos e dos pais, para já não falar de outros sectores da comunidade educativa);
c. O cepticismo e o sentimento de impotência (isto consiste em não acreditar nas potencialidades da participação para melhorar as coisas);
d. A obsessão pela eficácia (discutir, dialogar, negociar e consensualizar é perder tempo);
e. Preconceitos, resistências e desconfianças entre os membros da comunidade educativa (entre alunos e professores, entre professores e pais...e por aí fora);
f. Subversão das estruturas de participação (confisca-se a participação de certos actores decidindo antes das reuniões. O que se faz a seguir é gerir o consentimento a decisões pré-tomadas);
g. Horários pouco compatíveis (são muitas vezes marcados em função dos interesses de certos membros da comunidade educativa);
h. Falta de informação atempada sobre os temas que se vão discutir;
i. Concepção burocrática e formalista da participação (participa-se para umas primeiras formalidades);

ii. O panorama parece pouco animador. Será que não se pode fazer nada? Estaremos condenados a uma participação democrática exangue, sem vida e sem substância?

3.2 Desafios e perspectivas:

i. Os obstáculos referenciados, longe de nos tolherem os movimentos, são um acicate a vencê-los e a contorná-los. São reptos ou desafios que, uma vez ultrapassados, nos abrem para outras perspectivas.
ii. Que precisamos fazer?
Primeiro: recolocar a cidadania activa na agenda da Escola, tanto ao nível dos orgãos de governo e de controlo da instituição.
Segundo: Aproveitar a participação democrática para melhorar a qualidade do serviço educativo prestado pela escola. Não esquecer que a participação democrática dispõe de potencialidades nesse sentido. (É mais fácil melhorar o ensino- aprendizagem se houver diálogo e colaboração entre pais e professores, no respeito e na consideração dos estatutos e dos papéis de uns e outros).
Terceiro: Apostar na aprendizagem da participação e da cultura democrática como meio de dar sustentabilidade ao desenvolvimento das comunidades locais, inseridas no raio de influência da Escola e que nela estão implicadas. (Está a formar-se um consenso quanto à importância da participação democrática na promoção do desenvolvimento sustentável e da qualidade de vida).
iii. Será isto utópico? Não, se acreditarmos que o importante é caminhar em frente e não recuar.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mais 2 videos importantes para a educação dos nossos filhos

Caros leitores e leitoras
O vídeo é longo e talvez um pouco cansativo pelas legendas, mas vale a pena ver até ao fim.
Diria mesmo OBRIGATÓRIO sobretudo para quem tem ou tenciona ter filhos.
Para ver e reflectir

http://video.google.com/videoplay?docid=-3412294239230716755&hl=en>
http://video.google.com/videoplay?docid=-3412294239230716755&hl=en>

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Criatividade e Educação

MUITO BOM, A NÃO PERDER.
Ken Robinson um excelente pedagogo que vem na senda das inteligências multiplas de Howard Gardner.
De facto a diferença no sistema de ensino sempre foi vista como um problema quando, ao invés, deveria ser considerada como uma mais valia.
Talvez uma escola menos competitiva, menos académica e mais centrada no ensino profissional e vocacional... talvez uma escola que não descure a carpintaria, os lavores, a dança, a cozinha, a música, o desporto, o teatro, entre outros saberes... talvez... talvez seja a resposta à diversidade humana.
Vejam os dois links pois vale a pena.

parte 1 de 2 http://www.youtube.com/watch?v=yFi1mKnvs2w
parte 2 de 2 http://www.youtube.com/watch?v=0pn_oTIwy4g